O TEMPO ENTRE COSTURAS, de María Duenãs (Resenha)

E aqui estou eu de volta, trazendo mais uma resenha para vocês. Dessa vez, vim falar de um romance histórico chamado "O Tempo entre Costuras". O romance é contextualizado na primeira metade do século XX, mais especificamente entre a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), e mostra o ponto de vista “civil” sobre as guerras: ou seja, foca-se na vida de uma mulher, Sira Quiroga, nascida em 1911, que, a princípio, era uma simples civil espanhola sem qualquer envolvimento com as guerras. É verdade que no decorrer do livro, Sira acaba aumentando seu envolvimento com os conflitos, mas sempre se mantém em um papel secundário e periférico, nos dando uma visão não padrão e não oficial dos acontecimentos. 
A princípio, comecei a ler o livro sem grandes expectativas de que fosse interessante ou chamativo, especialmente porque ele começa da forma mais cliché possível: uma garotinha, filha de uma costureira solteira, cresce nas periferias de Madri aprendendo o ofício com a mãe, é criada para casar com um homem que pudesse dar a ela uma vida digna, ter filhos e cuidar de uma casa. Até aí, li sem nenhum interesse em especial. Contudo, o livro promete o que cumpre: as reviravoltas acontecem toda hora, uma após a outra, mal dá tempo de cair no marasmo outra vez.  
A vida de uma simples costureira pode se tornar interessante com meia dúzia de acasos, e nada soa artificial. Digo isso porque o livro é extremamente bem fundamentado (a autora deixa no final três páginas de bibliografia feita majoritariamente por estudos históricos), ou seja, a ambientação de "O Tempo entre Costuras" é impecável.  Eu mal consigo imaginar o trabalho que deve ter dado para escrever um material com essa qualidade, e só consigo pensar que a autora já devia estudar isso antes de pensar em escrever esse romance: ninguém pensa "vou começar uma pesquisa enorme do zero para escrever meu romance histórico", as pessoas precisam já conhecer o assunto antes para saber que gostariam de escrever sobre ele.
Entretanto, gostaria de enfatizar aqui que o fato de o livro ser bem contextualizado não significa que um leigo consiga entender: felizmente para os que já têm conhecimento prévio e infelizmente para os que não tiveram essa oportunidade, o livro só fará o mínimo de sentido se você já conhece um pouco sobre a história da Espanha. Se você não sabe as implicações da Guerra Civil Espanhola, talvez fique um pouco difícil entender o que está acontecendo, e isso provavelmente deixará as coisas cada vez mais turvas conforme a história avança. Isso não necessariamente é um problema: torna a leitura mais rápida e dinâmica, porque pula explicações "desnecessárias", mas é um problema se você não tiver a iniciativa de pesquisar o contexto por conta própria. Se você, assim como eu, gosta de história, então não verá problema nisso.
O leitor tem a oportunidade de acompanhar de perto o crescimento visível da protagonista, Sira Quiroga, durante todo o livro. Ele vê os embates internos e os fatores externos que transformaram a simples filha de costureira do começo da história em uma mulher independente. Além da divisão de capítulos que estrategicamente pula de partes importantes para outras sem que o buraco entre as duas cenas se torne relevante, o livro também se divide em quatro partes, demarcando claramente as quatro fases da vida de Sira e, indo além disso, separa com rigidez as quatro diferentes Siras. Um olhar mais atento pode perceber que a personagem sofre mudanças significativas entre uma parte e outra.
Em resumo, o livro é muito bem construído, com um aprofundamento histórico e narrativo admirável, mostrando de modo muito bem feito as modificações dentro e fora da protagonista.

Gabby Meister 

[A resenha acima tem por único objetivo divulgar minha visão e opinião pessoal sobre o livro citado, e não visa ofender ou difamar ninguém, nem mesmo difamar a obra ou o autor dela. É apenas meu ponto de vista, questionável e discutível]

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