MAUS, de Art Spiegelman (RESENHA)



Começo do ano, estamos de volta (um pouco de atrasada? Talvez) com mais uma resenha, o que é bom, mas como nem tudo são flores, o assunto abordado em "Maus" não é tão bom assim: holocausto.
Art Spiegelman considera-se americano, embora tenha nascido na Suécia, e é filho de um casal de judeus que sobreviveu ao holocausto da Segunda Guerra Mundial. Em "Maus", Spiegelman narra a história que seu pai tem para contar sobre esse período difícil de sua vida.
Uma das grandes maravilhas de "Maus" é sua acessibilidade e atratividade até para o público mais leigo e desinteressado por leitura, pois trata-se de uma graphic novel (um romance escrito em forma de história em quadrinhos), e todo mundo sabe que isso por si só já é um atrativo para quem não tem o costume de ler. 
Como se uma história ilustrada não fosse bom o bastante, todas as personagens são representadas por animais. Obviamente, isso não foi feito para mero entretenimento do leitor (judeus são representados como ratos, alemães são gatos, poloneses são porcos... tirem suas próprias conclusões), mas é impossível negar que é uma maneira muito interessante de interpretar o evento. O ponto aqui é a perspectiva de uma interpretação diferente do convencional, através de uma ilustração aparentemente inocente e engraçadinha.
"Maus" intercala com fluidez o "tempo presente" (o momento em que Art entrevista seu pai) e as memórias do holocausto, permitindo que o leitor faça uma associação direta entre causa-consequência, porque podemos perceber no pai de Art o impacto que o holocausto teve em sua vida. É claro que é uma projeção em pequena escala para ilustrar como o passado se reflete no presente, porém, não deixa de fazer sua função de ajudar o leitor a se inserir no mundo do pensamento histórico.
Por se tratar de um relato real de vivências tão pesadas, não posso dizer que o livro seja recomendado para crianças muito novas, mesmo que as ilustrações chamem a atenção. Por outro lado, é uma ótima maneira de começar a estimular o interesse de crianças um pouco maiores, aproximando-as da literatura e da história. É uma desculpa perfeita para discutir com elas sobre governos autoritários, tolerância e violência (e, dado o atual cenário político, precisamos urgentemente ensinar mais sobre isso para nossas crianças).
"Maus" é divido a partir das transições da vida do pai de Art durante o holocausto (suas mudanças de campo de concentração ou dentro dos campos, prisões, etc.), o que facilita para que o leitor perceba a dinâmica do holocausto e, talvez, se ele estiver disposto a analisar um pouco mais a fundo, uma parte das dinâmicas da guerra.
Em resumo, é um relato não-ficcional sobre a Segunda Guerra Mundial, muito mais interessante que qualquer documento acadêmico poderia ser (não que dispense o estudo sério de história, pelo amor dos deuses), trazendo uma leitura inesperada sobre o episódio. Spiegelman sempre quebra a quarta parede, retratando a si mesmo enquanto entrevista o pai ou tenta desenhar "Maus". É uma obra extremamente bem construída.
Logicamente, é uma história pesada, mas a menos que você seja uma criança muito nova, vale a pena a leitura.


Gabby Meister 

[A resenha acima tem por único objetivo divulgar minha visão e opinião pessoal sobre o livro citado, e não visa ofender ou difamar ninguém, nem mesmo difamar a obra ou o autor dela. É apenas meu ponto de vista, questionável e discutível]

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