DEBAIXO DAS RODAS, de Hermann Hesse (Resenha)


Apesar de não ser uma das obras mais famosas de Hermann Hesse (um dia lerei "O Lobo da Estepe", prometo), "Debaixo das rodas" é um livro fantástico e, apesar de ter sido escrito há mais de um século, continua sendo particularmente sensível mesmo nos dias de hoje, e por uma razão muito simples: as coisas mudam, mas o sistema educacional parece ter dificuldade para acompanhar esse ritmo. Não é o único motivo, mas é algo muito presente na obra e precisa ser considerado. 
O protagonista, Hans, vive a experiência que cada vez mais pessoas vivenciam todos os anos: a pressão para ingressar no ensino superior e tentar sobreviver a ele. Algo que já vimos milhões de vezes em literatura adolescente padrão, fanfics famosas e histórias do gênero, não é? Não nas mãos de Hesse: a ambientação, a meu ver, é uma das maiores dádivas do livro, pois as sensações ao redor sutilmente complementam e se misturam às emoções e sensações de Hans, dando um brilho único à narrativa. Não é preciso passar tanto tempo falando sobre como ele se sente porque a própria descrição do cenário e das pessoas já mostra isso de modo que você não apenas perceba o sentimento, mas consiga sentir junto também. A angústia, o êxtase, o desânimo, o medo e várias outras emoções estarão presentes em você antes que se dê conta disso.

Para além do contexto do drama juvenil de tentar construir sua vida, o livro é capaz de criticar um sistema inteiro a partir da vida nada atípica de um garoto qualquer, e quem enxerga apenas um problema no sistema educacional entendeu só metade: uma vida que vivemos para bater metas, agradar aos outros e, em dado momento, sentimentos o sabor do desespero ao perceber que não sabemos quem somos, não fizemos nada e não nos construímos. A beleza do livro de Hesse é justamente explorar isso sem cair em clichês ou críticas vazias e raivosas; na verdade, pouco se critica, porque mostrar e sentir já basta. 
Eu realmente achei admirável a forma como Hesse construiu uma obra incrível e bem feita usando como base a história de um garoto comum vivendo uma vida comum, porque seu foco eram as emoções e a (des)construção emocional da personagem, e isso se tornou interessante e apaixonante de se ler. É um livro que eu recomendaria a todos, mas com ressalvas: leia em seus bons momentos, pois Hesse pode machucar psicológicos abalados.

Gabby Meister


[A resenha acima tem por único objetivo divulgar minha visão e opinião pessoal sobre o livro citado, e não visa ofender ou difamar ninguém, nem mesmo difamar a obra ou o autor dela. É apenas meu ponto de vista, questionável e discutível]

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