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Mostrando postagens de 2018

CAFÉ EXPRESSO - rascunhos de uma mulher (Poesia em prosa Autoral)

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"Café expresso - rascunhos de uma mulher", por Gabby Meister Minha atenção vagueou por ela quando a vi se sentar um pouco atrás de mim, mas a ignorei e segui com os meus estudos. Pouco depois, ela se levantou e foi se sentar em uns sofás não muito distantes de mim, na minha frente. Cruzou as pernas e começou a ler um livro. Não sei o que ela lia, não consegui perceber o livro em suas mãos. Não sei se era bonita ou não, muito menos saberia escrever clichés vazios sobre as curvas de suas pernas, ou sobre os traços de seu rosto, que estudei por intensos minutos sem ser notada. Eu era invisível, o que me permitiu rascunhar estes trechos na frente dela, e a cada olhada eu só me inspirava mais.  Sentidos. Eu estudava sobre os sentidos em algum lugar, e eles faziam sentido agora. Porque, repito, eu não saberia dizer se ela era bonita, nem saberia detalhar suas pernas, mas posso falar sobre sensações. A sensação de ser como um imã atraído por um metal que desconheço, a sens...

O TEMPO ENTRE COSTURAS, de María Duenãs (Resenha)

E aqui estou eu de volta, trazendo mais uma resenha para vocês. Dessa vez, vim falar de um romance histórico chamado "O Tempo entre Costuras".  O romance é contextualizado na primeira metade do século XX, mais especificamente entre a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), e mostra o ponto de vista “civil” sobre as guerras: ou seja, foca-se na vida de uma mulher, Sira Quiroga, nascida em 1911, que, a princípio, era uma simples civil espanhola sem qualquer envolvimento com as guerras. É verdade que no decorrer do livro, Sira acaba aumentando seu envolvimento com os conflitos, mas sempre se mantém em um papel secundário e periférico, nos dando uma visão não padrão e não oficial dos acontecimentos.  A princípio, comecei a ler o livro sem grandes expectativas de que fosse interessante ou chamativo, especialmente porque ele começa da forma mais cliché possível: uma garotinha, filha de uma costureira solteira, cresce nas periferias de Madri ap...

Redação do Enem 2018, AJUDANDO QUEM QUER APRENDER - Redações autorais

Olá, pessoal! A primeira parte do ENEM 2018 rolou nesse domingo (04), e tivemos a ilustre presença das provas de Ciências Humanas, Linguagens e Redação (minhas preferidas, obviamente). Vim aqui falar do ENEM? Não, em tese não. Quem sabe mais para frente (eu não me inscrevi para a prova, mas tive acesso a ela ainda no domingo e já resolvi a primeira parte, ou seja, sei como foi a prova desse ano, e apenas digo que o ENEM nunca me decepciona). O tema de redação esse ano, "Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na Internet ", foi especialmente provocativo e incrivelmente acertado, de certo gerará muitos debates, e eu, que não posso ver uma chance de escrever, escrevi também minha redação nos moldes do ENEM, que pode servir tanto para vestibulandos que porventura queiram ver possibilidades e formas de redação, como para escritores que desejem analisar essa estrutura argumentativa-dissertativa, que é a exigida pelas regras do ENEM, mas pouquíssimo usad...

O MALABARISTA (Microconto autoral)

Eu sei que já faz algum tempo desde minha última publicação, e agora gostaria de aproveitar a oportunidade para apresentar a vocês um microconto que escrevi recentemente.  Espero que gostem! "O Malabarista Existe vida em algum lugar, ou foi o que me disseram quando anoiteceu. Eu ouvi histórias fantásticas sobre seres que sentiam e vagavam por aí, fazendo malabarismos com suas ideias e suas mágoas, e era fascinante de se ouvir. A história era mais ou menos assim: as coisas vivas não se importavam com outra atividade que não fosse equilibrar tudo engenhosamente. Faziam isso por arte, era um estilo de vida! Em seu malabarismo, recriavam as mais ínfimas das percepções, recebiam diversas lições importantes, e nada podia se equiparar à genialidade do malabarismo de cada um. "Deve ser mentira", eu pensava. "Nenhum ser vivo é capaz de administrar tanta existência". Eu estava certa e errada, e isso é só mais um malabarismo pra lista. As histórias eram bo...

LUCÍOLA, de José de Alencar (Resenha e Análise de cunho social)

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Eu decidi que faria a resenha deste livro, mas passei um bom tempo pensando se realmente faria isso. Este post terá duas partes: a resenha, onde desconsiderarei minhas críticas sociais e falarei especificamente sobre o livro. Na segunda parte, farei minha análise de cunho social (e histórico, de certo modo). Resenha O livro é escrito por um consagrado autor brasileiro do século XIX, José de Alencar, e por isso [o livro] Lucíola é considerado um clássico da literatura nacional. Pois bem, a meu ver, Lucíola é basicamente um drama. É romance, mas é também um (enorme) drama. Infelizmente, esse acaba sendo um ponto baixo do livro: o drama apenas se repete, arrumando em si mesmo uma desculpa para continuar se reproduzindo, e a história só sai desse círculo dramático nas últimas páginas. É muitas vezes repetitivo e cansativo e, embora as coisas fiquem tristes e um pouquinho surpreendentes no final, não estou certa de que isso compensa todas as voltas que o livro deu. Lucíola é es...

DETALHE FINAL, de Harlan Coben (Resenha)

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Harlan Coben é conhecido por seus livros de suspense policial, e Detalhe Final não é diferente. O autor, que também é cientista social, trás no decorrer do livro alguns (poucos) diálogos que trazem certas reflexões sociais interessantes e relevantes (embora algumas conclusões sejam bem discutíveis). Não sei até que ponto elas expressam opiniões do autor e onde entra a opinião independente das personagens, e sinceramente não vejo como isso poderia ser relevante para essa resenha. O livro é feito por numerosos e curtos capítulos, com cortes precisos e no momento certo. Quem gosta de suspense policial sabe quanta diferença faz cortes estratégicos bem posicionados, pois dão intensidade para os momentos certos, e Detalhe Final não decepciona nesse sentido. Outra coisa a se parabenizar nesse livro é que, mesmo que por vezes se fale da vida pessoal do protagonista, isso não toma um tempo excessivo e torna a história mais profunda. É dito o necessário para tornar o enredo mais denso, e nã...

O PISTOLEIRO, de Stephen King (Resenha)

Foi minha primeira leitura do Stephen King. Quando eu vou conhecer um autor que ganhou muita fama por alguma obra em especial (no caso de King, seu estouro mais recente foi "It, A Coisa". O livro em si não é novo, mas o filme trouxe uma atenção especial para a obra e, embora eu tenha muita vontade de lê-la, pois amei o filme, ainda não o fiz). Sigo essa regra porque entendo que um livro que é um grande estouro tem algo de diferente que os outros livros do autor não têm. Esse estouro, seja por sorte ou por talento do escritor, faz do livro um "caso especial" e por isso prefiro ler outra coisa menos conhecida para tirar minhas conclusões. Foi o que eu fiz com John Green, lendo "Cidades de Papel" quando seu livro "A Culpa é das Estrelas" estava em alta (este último, inclusive, ainda não li. Quem sabe um dia?). Vamos ao que interessa. A primeira coisa a se enfatizar sobre a versão de O Pistoleiro que eu li é que as primeiras páginas falavam sobre ...

EXTRAORDINÁRIO, de R.J. Palacio (Resenha)

Hora da confissão: só li o livro porque gostei do filme. Admito que eu não tinha nenhuma curiosidade de lê-lo, embora tivesse ouvido falar que a abordagem era interessante e tudo o mais, e que falava sobre um assunto bastante em pauta na nossa sociedade, o bullying. Em minha defesa, Extraordinário sempre me pareceu o tipo de livro feito para introduzir crianças ao assunto do bullying e, portanto, eu tinha pouco interesse em ler, pois creio que já fui introduzida ao tema por outros meios. Contudo, depois de assistir ao filme, resolvi dar uma chance à história. Eu estava certa ao deduzir que o livro era perfeito para o público infato-juvenil. A linguagem é bem simples e fácil, e se torna especialmente atrativa por ser narrada por crianças durante a maior parte do tempo. Isso não é ruim, eu mesma escrevo livros juvenis. Voltando ao que interessa, é um bom livro, mas você provavelmente não vai gostar se já perdeu a paciência com uma linguagem e uma história leves e "educativas...

O ORÁCULO OCULTO, de Rick Riordan

Ok, se você deu uma olhadinha na minha lista de livros já lidos (na barra lateral, lá na parte superior esquerda da tela), imagino o que está pensando nesse momento: "essa garota já leu mais de vinte livros desse cara, é óbvio que ele é tipo um queridinho para ela e é claro que ela vai elogiar o livro". Bom, sim, eu estaria mentindo se dissesse que o Riordan não é um queridinho. Ele é um dos meus autores preferidos (se não o preferido mesmo). Eu já entrei em muitas reflexões sobre como ele provavelmente usou sua saga de maior sucesso, "Percy Jackson e os Olimpianos" (que é minha saga favorita) para aumentar as vendas suas outras sagas, fazendo referências e trazendo a presença do Percy insistentemente para outros livros (não que eu esteja reclamando, sou apaixonada pelo Percy). Eu acho isso uma pena, porque analisando com sangue frio, Riordan é um bom escritor. Ele tem um incrível conhecimento de diversas mitologias e tem feito um trabalho fantástico ao trazer esse...

A PÉROLA, de John Steinbeck (Resenha)

Esse é um daqueles livros que eu desisti de ler quando mais nova por falta de paciência e falta de um certo nível apreciativo e analítico. Lendo agora, percebo que vale a pena dar uma chance a todos os livros que eu abri mão de ler há alguns anos. A primeira coisa que me chamou a atenção e me fez ter certeza de que eu deveria conhecer a obra até o final foi o fato de se tratar de protagonistas indígenas. Eu sei que na capa do livro estava escrito sobre como o autor tinha sido aclamado e sobre como a obra ganhara premiações, mas eu não levo isso em consideração para criticar um livro. Voltando ao que interessa, protagonistas indígenas. Já fazia algumas semanas que eu me sentia incomodada por nunca ter lido (sequer ter ouvido falar) sobre histórias cuja narração contém uma presença significativa e influente de povos indígenas em geral. Escolhi ler esse livro simplesmente porque estava na minha estante há anos, e só depois de abri-lo que tive a felicidade de descobrir uma história que ...

VIAGEM AO CENTRO DA TERRA, de Julio Verne (Resenha)

Tudo bem, eu li a versão traduzida e adaptada pelo Walcyr Carrasco, o que provavelmente teria me deixado um pouco receosa e até mesmo um pouco decepcionada, se eu não conhecesse o bom trabalho que esse autor faz.  O que eu tenho para dizer é: uau.  Quando eu leio um livro, principalmente os ficcionais, eu analiso enquanto leitora e enquanto escritora, e para mim é quase impossível dar um parecer separado sobre essas duas visões. O que eu posso dizer, como autora, é que esse livro deve ter dado um trabalho imenso para ser escrito, especialmente se considerarmos que é um trabalho do começo do século XIX.  Trata-se de uma ficção científica de altíssima qualidade, que com certeza foi fruto de uma ampla pesquisa sobre, no mínimo, geologia, arqueogeologia e sabe-se lá o que mais Julio Verne precisou saber para escrever esse livro. Dizem que ele já tinha um fascínio pelo assunto, o que imagino que facilitou muito o processo de pesquisa e, talvez, essas sejam apenas coisas...

A CANÇÃO DAS SEREIAS, de Renan Santos (Resenha)

Já começo dizendo que eu não tenho absolutamente nada para reclamar desse livro. Falo sério, a única coisa condenável dessa noveleta é que acaba. E só. Não há nada mais para ser criticado. É muito bem estruturado, você sente claramente que o autor tinha ampla preparação e estudo para escrever o que escreveu. Flui em um ritmo perfeito, contando as coisas na velocidade ideal para introduzir o leitor na história, explicando tudo o que precisa ser explicado (confie em mim, é muita coisa, mas isso nem de longe foi problema para Renan. É bem difícil se perder ou se confundir) sem que, contudo, a leitura se torne massante ou lenta demais. A construção de universo me deixou pasma: os fortes traços medievais tirados, aposto eu, de muitos livros de D&D (não é uma crítica negativa, de forma alguma; eu mesma me aproveitei fortemente do RPG em um de meus livros, embora com certeza não como você aí está pensando), indicam que o universo não foi tirado do nada, o que não surpreende ou o...

VERONIKA DECIDE MORRER, de Paulo Coelho (Resenha)

É um livro incrível, com certeza me fez repensar diversas coisas sobre minha vida. "Veronika decide morrer" trata sobre um reencontro com seu eu interior e com o mundo. Tenta te mostrar que o viver está nas pequenas coisas, e explica porque sempre vale a pena dar uma segunda chance para você mesmo. O livro conta a história de uma suicida que queria se matar apenas porque não via mais graça na vida e, embora ainda muito nova, tinha certeza de que já tinha visto tudo o que havia para se ver no mundo. Porém, depois que seu suicídio falha, Veronika começa a redescobrir o sentindo da vida e o que realmente significa estar vivo. Ela conhece partes de si mesma que nunca conheceu antes, e descobre que o mundo é cheio de realidades e possibilidades que ela ainda não explorou. É claro, Veronika se depara com aquele típico pensamento dos que estão quase morrendo: "eu preciso ver o sol nascer mais uma vez, e ler aquele livro que eu prometi a mim mesmo que leria. Tenho qu...